Saturday, August 19, 2006

Seca de Uma Noite de Inverno (Do Album Negro, Musgo e Carmim)


(Finito micro-conto baseado no Tempo)

Escrevi isto num dia sem dia e sem lua nenhuma para ser vista no céu:
- Cadê o vértice?
- Ora, dobrou a esquina neste exato momento.
- E que esquina é esta?
- A da fissura; aquela ali. A que fica no meio do canto.
- Mas aonde está o canto?
- Em toda face.
- De que lado?
- Desta, que rodopia até alcançar a extremidade.
- E rola muito?
- Até o vértice.
- E qual a cor da figura?
- Depende apenas do traçado que ela faz.
- Quando?
- Como?
- Perguntei quando?
- Ah, quando corre para atingir a linha e cai.
- Que linha, a horizontal?
- Não, é a que vem antes mas junto dela. É a linha da cor.
- Poxa, isso não tem sentido nenhum!
- Mas tem uma linha e uma cor.
- E serve prá costurar?
- Serve! E até dá ponto sem nó. Quer ver?
- Quero!
- . Viu, sem nó nenhum ...
(Pausa)
- E se eu desdobrar ainda mais?
- Talvez você mais achasse ...
- Ei, espera! Mas mais de que?
- De pedaços seus.
- E até aonde posso levar isso?
- Até acabar o que nunca acaba.
- E até quando o que isso é vai?
-Vai pro meio, talvez você descubra.
- E onde fica isso?
- No canto, e esta é a palavra final
Aqui jaz uma pausa e um ponto e um conto.
P.S.: Agora já posso ouvir mais uma vez "Night in Tunisia". Sonho? Talvez seja apenas mais uma fração de tempo...

(Dedicado ao meu Avô, que um dia voltou às Plêiades sem medo)

O Canto Híbrido da Pedra (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Decifra, Oh Musa, a cifra cantada por Hathor,
Mãe sétima de filho único,
Afrodite do Nilo que de Dandarah trouxe,
Imóvel, nua e oblíqua,
Brônzea luz sobre Hélia flor,
Desvelando-a.
Depois da época, agora julga;
Escolhe, do senso solto, o certo:
Modela-o, mantêm-no firme.
Rasga o tempo e o duplo-infinito parte limitado:
Síntese ímpar do olhar!
Atua.
Extrai!
Nega o bloco e afirma o ser da arte.
O que fica, presa interna de si,
Retém na aljava de mármore a seta,
Com cinzel glauco-carmim.
Finca-o no bloco,
Entrelaça o mútuo,
Ultrapassa o outro,
Germina o mesmo e único desejo de ti.
E segue no flanco o impulso incessante de som!
Estilhaça!
Executa!
Permuta a lítica em carne!
Alva e límpida,
Pede a ela que se revele,
Sendo rígido o pulso contínuo de luz.
Súbito,
Projéteis descontínuos,
Despojos do bloco deposto,
Dormem no chão.
Morto o sentido do caco,
Fragmentos inertes- Peças de um jogo de desmontar -Tombam frios;
Escapa de suas frestas o calor,
Como a alma pela boca do corpo!
Resta viva,
Suada,
A Obra.
Cessa o golpe:
Já sangra a desmedida.
E sob cromática tez,
Elevada em silêncio ao leito,
Conserva quente o pacto
De mármore e lívida carne
E anuncia o princípio de teu movimento,
Por dentro,
Ao outro,
Autor
De ti.

A Prosa da Rosa Caipira (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Rosa rosácea,
Roça o riso da terra,
Semeia o senso no mundo,
Ouve o rouco cantar!
Rosa robusta,
Pelo horizonte todo a terra e o céu costurando,
Arrepia o ar e respira,
Recados, troças de caipira,
Caipira louco que gira – Amando!
Mas deita só a rosa:
Toda a relva troça!
Ah! Nem espera a hora,
Resta só na prosa,
Poda fora - à moda - Brilhando!
Vai Rosa!
Dá seu ar à bossa,
Rabisca cor-de-rosa
Paixão em polvorosa
E deita fora a fossa – Cantando!
E, contudo, parece triste a doçura dela:
O risco dessa rosa arrasou meu coração!
Mas se não é o risco,
O que seria então desta canção?

The Gates of Passion (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Now I start to realize that you care for me
Likewise you must say that there's something going on...
Everything is a plenty bowl of love
A thousand of brilliant times and a dove
Just for having you whispering on my ears
Each one of those magical words
That breaks apart all my fears.
What binds our love in this joyful flow
Is, baby of mine, in these Gates of Passion
With great compassion and a happiness unknown
For all the incandescence eternity of now
Into our body & soul and some calm
The bright colors of the night
The deep sensation of flight
And all the true & sincerity of our mutual sight...
Blessed with love, grace, and desire
We could embrace each other forever and like
For getting closer, altogether and kind
Because these are the Gates of Passion
The aim of those dreams we ever lived for.
We are intended to be here, ever beyond.
In this perfect paradise
All leads to these Gates of Passion...
For the Gates of our Passion
Baby of Mine
Are tonight.

Lágrimas e Sonhos (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Por que tão depressa o chorar e tão lento o amar?
São tantos os mundos teus que admiro perto de mim,
Que a mais tênue possibilidade de realização sem fim
Logo diz que será grande o meu pesar...
Pois mesmo tudo tendo,
Ainda falta você que ando querendo,
Sempre a fugitiva de meu luar...
E então volto mais uma vez ao restante de mim
Pois logo vi que não podia ser assim,
Logo eu,
Te querer,
Sem chorar?
Entretanto,
Sigo por toda a volta
Sem deixar-te escapar,
Ainda que em meus braços ocultos
Apenas ressoe o ar,
Que uma vez tu me deu a respirar...
E arfo de querer amar,
Como podia eu,
Sem esse alegre sonho,
Me acalmar?
Sonhar em querer magoar?
Não!
Não faz parte de meu querer,
Simplesmente não posso ver,
Tornar-se meu gostar num destes simples jogos de azar...
E como poderia deixar-te ir,
Sem poder admirar em teu rosto este belo sorrir,
Que encanta e descansa o coração num longo e doce porvir...
Mas claro!
Pois soam sim teus belos lábios de guerreira,
Que comovem essa minha doce e inocente cegueira,
Tornando-a mais morna, ilusória e faceira.
Doce é o meu pranto,
Mas mais doce é o meu gostar,
O que seria de mim,
Portanto,
Sem esses sonhos a cultivar?
Contudo,
Rouco é meu canto,
E mais louco é o amar,
Pois o que outrora era tanto,
Nada vale agora sem o poder do olhar.
E sigo depressa teus doces lábios a cantar assim...

A Lover's Cry (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

To experience full love
Is to fly in the backs of a dove
Away, away, away
To the unreckoning sun of the dawn
Where all the pilgrims of the morning call
For their awakening forever and now.
And to be with you is so warmful
That my hearth takes the place of my skull
Always plenty of good reasons and feeling anew
Never mixing water with fire
Nor land with the sky
Because everything has kept its essence
By our lovely bind.
And when we met tonight
You can be sure
- Baby of mine -
It will be our love in its fly.

Inconsciente (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

O caos dissolvente
resolve em lágrimas
Escorridas no nodo do rosto
Coagulando-se na boca
Aquilo que antes era
A nódoa:
A dor daquelas doenças
Dormindo dentro da gente
Que levantam-se conosco
Ao despertar neolítico
De um velho poente.

Ode ao Desejo (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Despindo o ato
Dos fatos fecundos
Colhidos nos côvados nefastos
O trêmulo gesto
Dissimula.
Na fóssil fobia
De melancólicos poentes
As ocultas virtudes
Velam vícios.
Em desejo,
Velado nos vastos topos viris
Dos traços e recordações trocadas
Os cálices carnais
Dos ventres vorazes
Encenam o beijo.

Words of Sorrow (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Words, Oh words!
Words to open,
Words to hear,
Words of happiness,
Words on tears;
We have so many words,
Oh Words,
Words to bear!
Words today,
And for tomorrow...
So many words we have,
But all are hollow.
Since I’ve burned all my tears,
There’s no word for sorrow,
Nor there’s any other word to follow.
And this is left of all:
The word I have,
And the word I gave,
All of them,
Seems to leave me at morrow.

Retrato da Solidão (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Barbárie cruenta e final,
Forma de ser inaudita,
Calada,
Proscrita,
Cabal.
Rastejo do verme que ainda re-pulsa,
Por dentro do cerne,
De minha epiderme,
Cascalho de fel que expulsa,
Pedaço de mim.
Sobra de Hermes,
Caco de laços,
Soluço sem fim.
A palidez do retrato é o preço do verso.
O reverso,
Abandono da dor,
Sensação de pudor,
Recolhimento carmim.
Sem o rosto não há o fato,
Sensato,
Sentimento afim.
Sem o gesto não há o tom,
Pausado,
Ao lado,
Do sim.
Solidão intermitente,
Dentro,
Fora,
Por toda parte.
Quisera eu conquistar-te,
Sonho vão de Descartes,
Arremedo de gravidade,
Será isso o fim?

Thursday, August 03, 2006

LANDSCAPES OF FEELINGS


"The tendency to avoid problems and the emotional suffering inherent in them is the primary basis of all human mental illness."

THE ROAD LESS TRAVELED

"Neurosis is always a substitute for legitimate suffering."
CARL GUSTAV JUNG

Art experiences are a good way to get ourselves back in touch with our inner feelings, be it a musical composition, a picture in a gallery or in the big screen, an exercise in sensual touching or whatever else one wishes. Through them we release the feelings of past experiences and we also always can get involved in new experiences as well too. In doing this, we paint or musicalize the territories of our inner self, giving them colours, lines, shapes that enables us to be in touch again with who we really are, not just with whom we wanted to be. It's an exercise in being real again. We all have different landscapes inside ourselves, sometimes a swamp, sometimes a deep cliff, sometimes a solar beach, sometimes a waterfall... Our feelings are not strange things that get inside us for some unknown reason - they are all cast by our contacts with the real world, and denying some feelings as not legitimate for some moral reason is equal to deny the real diversity of landscapes of the world. All of them have something to teach us - we just need to let them do this to us naturally without forcing upon them some meaning of our choice, framed by our moral behavior of choosing some as "better" than others, and so leaving the real diversity of our experiences unrecognized.