Wednesday, October 25, 2006

O Caráter Tépido da Alma


(1475-78) Antonello da Messina (1430-1479), O Cristo Morto Carregado Pelo Anjo, Madeira, 74x51cm, Prado Madrid.
Dedico este belo quadro de Antonello à Paula, que em breve poderá vê-lo ao vivo e à cores em Madrid.
Penso que nele o pintor reuniu 3 elementos que me chamam a atenção por contribuirem na formação de uma visão muito particular e nova para a época no que se refere ao significado da dor e do sofrimento, dentro de um quadro de superação dos mesmos. O primeiro elemento é iconográfico: o artista inova aqui ao representar em uma imagem sacra a parte superior dos pêlos pubianos do Cristo, fator que retira a representação e o próprio significado do episódio de um contexto absolutamente intangível e transcendente, para reinstaurá-lo dentro de um contexto palpável, sensível ao próprio toque do espectador que agora encontra no Messias um igual, não só Deus, mas um Homem como todos nós. Não se trata, no caso da exibição do púbis, de uma tentativa de trazer ao personagem uma implicação sexual, mas de ressaltar a carnalidade sensível do mesmo. Esse primeiro elemento está ligado ao segundo, de caráter plástico, pois além do púbis, Antonello representa com enorme nítidez, vivacidade e realismo todo o corpo do Cristo, cuja unidade é formada aqui pela miríade dos seus pequenos detalhes individuais e particulares, como os pêlos da perna, as veias aparentes no braço direito torcido, o sangue que escorre em filetes ou em gotas, a barba e os cabelos, cujos fios são todos pensados isoladamente uns dos outros, a marca das costelas e assim sucessivamente. A reunião destes dois elementos, o iconográfico com o tratamento plástico dado às superfícies, fornece elementos para que possamos entender um terceiro elemento não de todo evidente, que se refere ao caráter expressivo da composição. Se a expressão do Anjo é um pouco mais evidente, ou seja, se nos sentimos seguros ao afirmar que o Anjo realmente chora a morte do Messias, por outro lado, quanto à expressão do próprio Cristo sentimo-nos atraídos pela forma em que Antonello a situa numa posição intermédia, de passagem, ou seja, dentro de uma ambiguidade que possibilita a aglutinação da experiência profunda da dor e do sofrimento ao mesmo tempo em que confere à essa mesma dor e sofrimento um caráter de superação, de verdadeiro êxtase religioso pelo qual a essência humana do Cristo antes observada pode vir a coexistir com a sua essência divina - e isso dentro de uma paisagem cujos elementos, em particular a caveira maior ao lado esquerdo e as outras inúmeras caveiras menores no fundo mais próximo, recordam ao fiel mais uma vez de seu caráter humano. Nesse mesmo sentido, ainda que a expressão do Anjo seja clara, Antonello situa-o também numa posição intermédia, pois as lágrimas são uma característica de nossa humanidade, e não do espírito em sua forma pura.
No fundo, é como se a própria visualidade especialmente realista, "mundana" e sensível da representação nos conduzisse, como numa verdadeira experiência mística, à uma realidade não aparente, invisível, tendo a carne sido transubstanciada em puro espírito - coisa, pelo menos a meu entender, verdadeiramente admirável para um artista produzir.
Fico pensando no quanto de mais pura e cristalina metafísica um quadro desse não possui...

Tuesday, October 24, 2006

A Foice Oculta (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

A falta transitando o oco
Faz no corte profundo e lodo
Do veio entumescido e todo
O expelido jorrar-se dentro
E o estanque tornar-se fora.

A falta transformada em ouro
Faz ouvir na fenda o canto
- eco e puro -
De silêncio solto,
Em urro,
Por ferro ungido em sangue
E sumo fugido ao meio.

E a falta transpirando exangue
Faz deitar com berro o mote
- de vida e de morte -
Que pela tez fingida veio
De profano tombo e corte
No outro sagrar-se seio.

Monday, October 23, 2006

"Fumo de Tabaco Rói o Ar..." (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Enquanto corre o movimento lá fora
Descerram-se meus olhos pesados
Enquanto pouso o sopro restante que inspiro
Sob os raios fugidios que agonizam.
Sobram despidos nas tumbas tristes
Os doces cânticos de outrora.
Na umidade musgo crescente
De um presente em ruínas
Revoam os pássaros do amanhã.
E à sombra de um redemoinho não ouvido
Regojizo às vezes
Sem nunca ter ido.

A embriaguês atual me assusta.
Onde estão as velhas mênades
E o baco de sorriso dilatado?
Por onde andam os velhos poentes
E a esperança de gestas mais largas?
Será o susurro do mar
Apenas o entrechocar-se das ondas?
E a praia?
Por que vive, por que espera?
A vela negra de Teseu já faz-se entrever
E do soluço do pai Egeu o largo oceano ressoa.

Mira o nascer do sol - tem teus olhos?
Tem a marca de teus dentes
A mordida dos efêmeros momentos?
Prefiro ecoar na pele
A cicatriz de uma brasa eterna
Do que estampar no rosto
A dor estreita de uma verdade ausente.
Conquista-me a graça,
A esperança de um corpo inseguro,
Tateante,
Mas ardente,
Do que,
Sendo sabido,
Não saber que ignora e sente.
Prefiro o ar pálido da manhã

Pois que apenas descongela
As lágrimas que em mim outrora se calaram.
De todos os modos que entristeço
Apenas a incompreensão é tão amarga.
Ouso silenciar-me diante da inocência alheia
Pois dói vertê-la em impureza:
Algo em mim permanece criança
Enquanto o sol esparrama seus raios
Encobrindo de luz
A essencial escuridão.

--Pela ausência já pressentida do meu amor...

Sunday, October 22, 2006

Remember Me a Kiss (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

As bold and gloomy sounds are listen,
And the glow-worms haven't yet started to glisten,
I walk alone under the pale and foggy rain
Wandering if there's another chance for me again.
I cross the streets of empty feigns
Cold as I feel the slit of thunder slanting over my veins.
And there's anybody else around except an old toad
Who gets closer to me as I start to feel odd.
He comes slowly in tiptoe
And shows me all that he owe:
It's a sparkling ring from the ancient quarrels
Where it's scribbled alongside two little arrows:

"Remember Me A Kiss"

As I try to get through the quiz
He starts to quiver and asks me this:
- Do you want to exchange it for a bottle of gim?
And I replied to him:
- Why are you grabbing so forcefully my hands?
Meanwhile the ring falls like timely sands
He stops breathing for a moment, stretching them tight
And a thousand years are past as in an hour-glass night.
- I don't have with me a bottle of gim!
- Don't worry, I'm already dim!


And as I, raptured, tried hardly to understand
What was his crazy plan
From the grey skies come two quick flashes
That turned the quitter into ashes
And I remained there,
Satiated with the atmosphere,
And then I remembered the pain
That I felt before in the rain
And because I was then so slight
I tumbled into the ground after the plight
But while I opened my hands and saw the ring
I couldn't refrain to feel what it could bring:
Is it so good to be outwardly wit
While always being wistful within?

Melted (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

NOW that my words are echoing all around the space
And distant views are becoming even more clear
The path to the old gateway is being filled with grace
While past memories are spreading again the fear
And senseless perceptions begins to take place.

IN THIS time wisdom is hardly trying to find its way
For we are taking ourselves deeper in this theater
Where clever passions and crazy reasons take their play
But, Oh, the presence of fairness is like feather
Since deceit is everything we have to say.


TOMORROW will probably be the same
And life will pass just in a day
Just as the fire that passes through the flame.

SO, my pal, please take a look at me now
A calm look not to my face
But to the meaning of my call.

Wednesday, October 18, 2006

O Temp(l)o das Horas (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Algoz rotineiro,
Soldado das horas,
Hárpia da moderna medida,
Quando da minha desfortuna,
Sorve o sopro de Netuno
- Tremeterra tridentino! -
E cobre com as nuvens da abóbada atlântica
Os umbrais da alcova contemplativa
Em que me encontraste.

De um canto a outro do olho
Soa incontido e intempestivo
O ciclópico desatino.

Dentre as ervas do repasto
Colhe as mais brandas penas
Como o duplo sol de Ícaro
Completando o abismo
De puro ar celestino.

Lança,
Finalmente,
A íngreme cor pontiaguda da culpa
Contra meu peito poluto
E liquefaz a etérea agonia
Do desmascaramento recente.

Enquanto o retrato é desvelado
Desfaz não vagaroso
O temor de ser livre
Pois a esperança de o ser
É um imperativo clandestino.

Saturday, August 19, 2006

Seca de Uma Noite de Inverno (Do Album Negro, Musgo e Carmim)


(Finito micro-conto baseado no Tempo)

Escrevi isto num dia sem dia e sem lua nenhuma para ser vista no céu:
- Cadê o vértice?
- Ora, dobrou a esquina neste exato momento.
- E que esquina é esta?
- A da fissura; aquela ali. A que fica no meio do canto.
- Mas aonde está o canto?
- Em toda face.
- De que lado?
- Desta, que rodopia até alcançar a extremidade.
- E rola muito?
- Até o vértice.
- E qual a cor da figura?
- Depende apenas do traçado que ela faz.
- Quando?
- Como?
- Perguntei quando?
- Ah, quando corre para atingir a linha e cai.
- Que linha, a horizontal?
- Não, é a que vem antes mas junto dela. É a linha da cor.
- Poxa, isso não tem sentido nenhum!
- Mas tem uma linha e uma cor.
- E serve prá costurar?
- Serve! E até dá ponto sem nó. Quer ver?
- Quero!
- . Viu, sem nó nenhum ...
(Pausa)
- E se eu desdobrar ainda mais?
- Talvez você mais achasse ...
- Ei, espera! Mas mais de que?
- De pedaços seus.
- E até aonde posso levar isso?
- Até acabar o que nunca acaba.
- E até quando o que isso é vai?
-Vai pro meio, talvez você descubra.
- E onde fica isso?
- No canto, e esta é a palavra final
Aqui jaz uma pausa e um ponto e um conto.
P.S.: Agora já posso ouvir mais uma vez "Night in Tunisia". Sonho? Talvez seja apenas mais uma fração de tempo...

(Dedicado ao meu Avô, que um dia voltou às Plêiades sem medo)

O Canto Híbrido da Pedra (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Decifra, Oh Musa, a cifra cantada por Hathor,
Mãe sétima de filho único,
Afrodite do Nilo que de Dandarah trouxe,
Imóvel, nua e oblíqua,
Brônzea luz sobre Hélia flor,
Desvelando-a.
Depois da época, agora julga;
Escolhe, do senso solto, o certo:
Modela-o, mantêm-no firme.
Rasga o tempo e o duplo-infinito parte limitado:
Síntese ímpar do olhar!
Atua.
Extrai!
Nega o bloco e afirma o ser da arte.
O que fica, presa interna de si,
Retém na aljava de mármore a seta,
Com cinzel glauco-carmim.
Finca-o no bloco,
Entrelaça o mútuo,
Ultrapassa o outro,
Germina o mesmo e único desejo de ti.
E segue no flanco o impulso incessante de som!
Estilhaça!
Executa!
Permuta a lítica em carne!
Alva e límpida,
Pede a ela que se revele,
Sendo rígido o pulso contínuo de luz.
Súbito,
Projéteis descontínuos,
Despojos do bloco deposto,
Dormem no chão.
Morto o sentido do caco,
Fragmentos inertes- Peças de um jogo de desmontar -Tombam frios;
Escapa de suas frestas o calor,
Como a alma pela boca do corpo!
Resta viva,
Suada,
A Obra.
Cessa o golpe:
Já sangra a desmedida.
E sob cromática tez,
Elevada em silêncio ao leito,
Conserva quente o pacto
De mármore e lívida carne
E anuncia o princípio de teu movimento,
Por dentro,
Ao outro,
Autor
De ti.

A Prosa da Rosa Caipira (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Rosa rosácea,
Roça o riso da terra,
Semeia o senso no mundo,
Ouve o rouco cantar!
Rosa robusta,
Pelo horizonte todo a terra e o céu costurando,
Arrepia o ar e respira,
Recados, troças de caipira,
Caipira louco que gira – Amando!
Mas deita só a rosa:
Toda a relva troça!
Ah! Nem espera a hora,
Resta só na prosa,
Poda fora - à moda - Brilhando!
Vai Rosa!
Dá seu ar à bossa,
Rabisca cor-de-rosa
Paixão em polvorosa
E deita fora a fossa – Cantando!
E, contudo, parece triste a doçura dela:
O risco dessa rosa arrasou meu coração!
Mas se não é o risco,
O que seria então desta canção?

The Gates of Passion (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Now I start to realize that you care for me
Likewise you must say that there's something going on...
Everything is a plenty bowl of love
A thousand of brilliant times and a dove
Just for having you whispering on my ears
Each one of those magical words
That breaks apart all my fears.
What binds our love in this joyful flow
Is, baby of mine, in these Gates of Passion
With great compassion and a happiness unknown
For all the incandescence eternity of now
Into our body & soul and some calm
The bright colors of the night
The deep sensation of flight
And all the true & sincerity of our mutual sight...
Blessed with love, grace, and desire
We could embrace each other forever and like
For getting closer, altogether and kind
Because these are the Gates of Passion
The aim of those dreams we ever lived for.
We are intended to be here, ever beyond.
In this perfect paradise
All leads to these Gates of Passion...
For the Gates of our Passion
Baby of Mine
Are tonight.

Lágrimas e Sonhos (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Por que tão depressa o chorar e tão lento o amar?
São tantos os mundos teus que admiro perto de mim,
Que a mais tênue possibilidade de realização sem fim
Logo diz que será grande o meu pesar...
Pois mesmo tudo tendo,
Ainda falta você que ando querendo,
Sempre a fugitiva de meu luar...
E então volto mais uma vez ao restante de mim
Pois logo vi que não podia ser assim,
Logo eu,
Te querer,
Sem chorar?
Entretanto,
Sigo por toda a volta
Sem deixar-te escapar,
Ainda que em meus braços ocultos
Apenas ressoe o ar,
Que uma vez tu me deu a respirar...
E arfo de querer amar,
Como podia eu,
Sem esse alegre sonho,
Me acalmar?
Sonhar em querer magoar?
Não!
Não faz parte de meu querer,
Simplesmente não posso ver,
Tornar-se meu gostar num destes simples jogos de azar...
E como poderia deixar-te ir,
Sem poder admirar em teu rosto este belo sorrir,
Que encanta e descansa o coração num longo e doce porvir...
Mas claro!
Pois soam sim teus belos lábios de guerreira,
Que comovem essa minha doce e inocente cegueira,
Tornando-a mais morna, ilusória e faceira.
Doce é o meu pranto,
Mas mais doce é o meu gostar,
O que seria de mim,
Portanto,
Sem esses sonhos a cultivar?
Contudo,
Rouco é meu canto,
E mais louco é o amar,
Pois o que outrora era tanto,
Nada vale agora sem o poder do olhar.
E sigo depressa teus doces lábios a cantar assim...

A Lover's Cry (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

To experience full love
Is to fly in the backs of a dove
Away, away, away
To the unreckoning sun of the dawn
Where all the pilgrims of the morning call
For their awakening forever and now.
And to be with you is so warmful
That my hearth takes the place of my skull
Always plenty of good reasons and feeling anew
Never mixing water with fire
Nor land with the sky
Because everything has kept its essence
By our lovely bind.
And when we met tonight
You can be sure
- Baby of mine -
It will be our love in its fly.

Inconsciente (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

O caos dissolvente
resolve em lágrimas
Escorridas no nodo do rosto
Coagulando-se na boca
Aquilo que antes era
A nódoa:
A dor daquelas doenças
Dormindo dentro da gente
Que levantam-se conosco
Ao despertar neolítico
De um velho poente.

Ode ao Desejo (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Despindo o ato
Dos fatos fecundos
Colhidos nos côvados nefastos
O trêmulo gesto
Dissimula.
Na fóssil fobia
De melancólicos poentes
As ocultas virtudes
Velam vícios.
Em desejo,
Velado nos vastos topos viris
Dos traços e recordações trocadas
Os cálices carnais
Dos ventres vorazes
Encenam o beijo.

Words of Sorrow (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Words, Oh words!
Words to open,
Words to hear,
Words of happiness,
Words on tears;
We have so many words,
Oh Words,
Words to bear!
Words today,
And for tomorrow...
So many words we have,
But all are hollow.
Since I’ve burned all my tears,
There’s no word for sorrow,
Nor there’s any other word to follow.
And this is left of all:
The word I have,
And the word I gave,
All of them,
Seems to leave me at morrow.

Retrato da Solidão (Do Album Negro, Musgo e Carmim)

Barbárie cruenta e final,
Forma de ser inaudita,
Calada,
Proscrita,
Cabal.
Rastejo do verme que ainda re-pulsa,
Por dentro do cerne,
De minha epiderme,
Cascalho de fel que expulsa,
Pedaço de mim.
Sobra de Hermes,
Caco de laços,
Soluço sem fim.
A palidez do retrato é o preço do verso.
O reverso,
Abandono da dor,
Sensação de pudor,
Recolhimento carmim.
Sem o rosto não há o fato,
Sensato,
Sentimento afim.
Sem o gesto não há o tom,
Pausado,
Ao lado,
Do sim.
Solidão intermitente,
Dentro,
Fora,
Por toda parte.
Quisera eu conquistar-te,
Sonho vão de Descartes,
Arremedo de gravidade,
Será isso o fim?

Thursday, August 03, 2006

LANDSCAPES OF FEELINGS


"The tendency to avoid problems and the emotional suffering inherent in them is the primary basis of all human mental illness."

THE ROAD LESS TRAVELED

"Neurosis is always a substitute for legitimate suffering."
CARL GUSTAV JUNG

Art experiences are a good way to get ourselves back in touch with our inner feelings, be it a musical composition, a picture in a gallery or in the big screen, an exercise in sensual touching or whatever else one wishes. Through them we release the feelings of past experiences and we also always can get involved in new experiences as well too. In doing this, we paint or musicalize the territories of our inner self, giving them colours, lines, shapes that enables us to be in touch again with who we really are, not just with whom we wanted to be. It's an exercise in being real again. We all have different landscapes inside ourselves, sometimes a swamp, sometimes a deep cliff, sometimes a solar beach, sometimes a waterfall... Our feelings are not strange things that get inside us for some unknown reason - they are all cast by our contacts with the real world, and denying some feelings as not legitimate for some moral reason is equal to deny the real diversity of landscapes of the world. All of them have something to teach us - we just need to let them do this to us naturally without forcing upon them some meaning of our choice, framed by our moral behavior of choosing some as "better" than others, and so leaving the real diversity of our experiences unrecognized.

Thursday, July 27, 2006

Vida ou o Mito de Ulisses e as Sereias

Para certas pessoas e certas culturas, o sonho é um prenúncio da morte. Para outras não. Para umas, é desligar-se da realidade, sólida, fria, mas segura. Para outras, é enxergar a realidade mais profundamente, e poder alcançar e tocar na verdade por trás das coisas, num contato intimo e místico entre o Eu e o Universo. O sonho me diz muitas vezes mais coisas do que a fria realidade, inclusive sobre a própria realidade. Pois ele vai além, traz o sentido metafísico que tanto falta à dura materialidade das coisas. É o elo de ligação entre o particular, nós, aqui neste plano, e o universal, o todo que tudo abarca. O sonho fala das nossas mais altas aspirações, que para alguns se tornam apenas meras “pirações”. A diferença de um e outro é o ar que enche o pulmão, desencadeando uma explosão de reações químicas que aguçam a nossa percepção e incendeiam o processo de tomada de consciência, nos trazendo uma visão mais ampla e totalizante da realidade. Sonho e visão X Ver para crer. A diferença que separa uma modalidade da outra é a mesma que separa a realidade subjetiva, interna, da realidade objetiva, externa e sensível, mensurável. O medo de não poder medir a extensão da subjetividade vem do desejo de permanecer sempre na bicicleta com rodinhas, confortável, mas previsível. O desejo de subjetividade, ao contrário, não propõe uma negação da realidade objetiva, mas uma trégua, um momento de repouso e vôo. Uma tomada de ar. Respiração. O input da diferença. O crescimento e amadurecimento do ser, em direção a uma realidade mais plena, não só determinada pelas injunções da matéria lítica, mas provida de movimento, liberdade, ainda que restrita, em suma, vida.
O mito do encontro entre as Sereias e Odysseu (Ulisses), relatado por Homero na Odisséia, remete ao mesmo tipo de questões. Só que não vejo a cena sob o prisma da leitura iluminista de Adorno e Horkheimer, onde é a razão a grande vencedora. Para mim, isso seria insistir num pensamento dicotômico, onde há um certo e um errado, uma razão e uma paixão. Seria ler o mito pela metade, como se Ulisses tivesse se atado ao mastro mas não ouvido ao canto mavioso das Sereias. Seu canto é tão importante para a vida de Ulisses quanto o regresso deste à Ítaca. O conflito é justamente como manter um sem abrir mão do outro: esse é o grande desafio e o verdadeiro conteúdo do mito. O que faz do poeta maior é a própria idéia das tramas de regresso (nostoi), onde é preciso tornar-se alguém, individualizar-se, ganhar identidade consigo próprio, sem renunciar à condição de anônimo (Ulisses diz à Polifemo, quando este lhe pergunta quem é que pode ludibriar-lhe: “Ninguém!”). É apenas ao Capitão Nemo (“Ninguém”, em Latim) a quem cabem as Vinte Mil Léguas Submarinas, grande sonho nas profundezas do Oceano, e no entanto, cheio de perigos e aventuras. Talvez a palavra que melhor descrevesse a realidade subjetiva fosse essa: uma grande Aventura, a qual fosse preciso conservar a radiante vibração da meninez, sem medo de ser feliz.

Wednesday, March 22, 2006

IL SOGNO



Henri Rousseau, Le Songe, The Museum of Modern Art, New York, 1910.
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"Se il sonno fosse (c'è chi dice...) una tregua, un puro riposo della mente, perchè se ti si desta bruscamente, senti che t'han rubato una fortuna?"
--- J. L. Borges
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"We are such stuff that dreams are made on,
and our little life is rounded with a sleep..."
--- W. Shakespeare - The Tempest, act 4, scene I

Friday, March 10, 2006

Hopper and Melancholy



Another way to look at Melancholy is through Edward Hopper paintings. Here what comes first to me is the different ways in which he portraits the modern human condition of solitude, where melancholy is usually associated with the condensation of double feelings such as hope, at one side, and despair, at the other, into a single sensation.

His paintings always show that aspect of life, almost at a point of an obsession, but sometimes looking at some of his paintings I don't feel that he portraits solitude in a desperate or negative way. I understand that solitude in Hopper's works is related to the advent of the modern, urban, world, but he seems to show some kind of redemptive possibility through his paintings, as if even if we are inexorably faced with solitude in modern times, there could be good things we could discover from that. Solitude in Hopper's works isn't related for me to emptiness....on the contrary, it is related to a certain kind of divine presence, some kind of aura of the moments when we might be able to experience life in a genuine, i.e. non erratic way, in comparison with modern life where everything runs so fast that we start to be unable to pause a while and enjoy ourselves with contemplative moods.

Looking again to Hopper's works, I would say that his main objective is to paint our modern human condition, where, as I have said previously, life is emptied from it's inner grace and happiness, but, notwithstanding, man still can rebuild this missing link, broken by history and modernity, by the pure contemplation of nature's redemptive powers, almost as if reality for him could be understood as nature basic elements as the sun light (especially), the fields, and landscape in general. Here, we could think of a relationship with impressionism, but there's something that is in fact different from it. As someone said, his sun light isn't totally happy as sometimes happen to be in impressionistic painters such as Renoir (but not all of them!). But for me there's always a feeling that he's trying to say that the consequences of modernity is a kind of real illusion compared to the true virtues of nature. For that reason there's always a place for the individual to rebuild the missing link between him and the other human beings, and this is done by the pure contemplation of nature's elements. So we cannot undue modernity, but we do have a way to escape from it's evil effects. We are locked in a solitary place, but nature's powers can always rebuild our bonds with the true condition of plenitude.

His paintings are, in some sense, a kind of natural religion, a contemplative prayer (religion: from the latin "religare" = to rebuild the broken bond) done to redeem ourselves from the evils of civilization. So there's an opposition between Nature and Culture, whereas he inverts the common valuation of them as in J.J.Rousseau for instance. It's always too good to feel that, despite the suffocating and darkening sensation brought by the buildings (the urban scenario), a simple bath of light can be as a pure breath of fresh air.

Saturday, March 04, 2006

At home in Emptyness


Credits: Steven Pinker's photos of Grand Canyon, Zion, Yosemite, Mono Lake, Arizona / osprey building nest on tufa
A idéia de se sentir em casa no meio do nada é também muito próxima da sensação melancólica.... Porque, afinal, quem não sente um belo conforto em se sentir mais do que é realmente? O típico da melancolia é, justamente, a sensação dupla advinda desse conforto e a sensação de frustração pela irrealidade do mesmo.
Não preciso nem dizer que o site do Steven Pinker merece e muito uma boa visita...

High and Low: Blue, Black, Grey, Yellow, White, Brown and Green



Credits: Steven Pinker's photos of Grand Canyon, Zion, Yosemite, Mono Lake, Arizona / Mirror Lake @ Yosemite

Land, Lake, Mist and Sun


Credits: Steven Pinker's photos of Grand Canyon, Zion, Yosemite, Mono Lake, Arizona / Lake Powell sunset 5
http://pinker.wjh.harvard.edu/photos/american_west/pages/Lake%20Powell%20sunset%205.htm

Melancholy Lakes



Credits: Steven Pinker's photos of Grand Canyon, Zion, Yosemite, Mono Lake, Arizona / Mono Lake shore
E como não podia deixar de ser, mando uma série de lagos que também ajudam a expressar a sensação de profundidade, grandeza e insondabilidade da Melancolia...

Bosque Cubano

Bosque Argentino

Bosque Chileno


Mais algumas fotos de Bosques para inspirar a imersão...

A Natureza dos Bosques



Um bom antídoto para a Melancolia é se perder em meio às sensações que a natureza nos provoca, de preferência em meio a uma natureza úmida e robusta, como os bosques:

"De vez em quando tudo o que eu quero é uma boa árvore com sombra para poder esquecer tb... Mudar a chave On para Off.. Música triste e melancólica ajuda também. Foi por isso que eu criei o Blog Melancholy's Lake, para ser minha relva fresca sobre a sombra apaziguadora dos bosques... Nada como se perder pelos bosques... Recomendo urgente uma visita ao Bosque dos Jequitibás ou outro similar, de preferência munida de um MP3 player com seleção apropriada para a ocasião e algumas horas de um findi como esse para não fazer nada.... só ficar sentindo profundamente a luz do sol ir penetrando nas frestas dos galhos e folhas das árvores enquanto nós mesmos vamos penetrando no mistério da natureza, tentando ao máximo fazer parte dela... Sem pensamentos, apenas a sensação reconfortante de ser parte da natureza, com seus altos e baixos..."

- Postado por mim como comentário ao Blog da amiga Menina Valente:

http://thecaterpillarconfessions.blogger.com.br/

Tuesday, January 10, 2006

John Dowland: Some Lyrics II

Come Again


Come again,
Sweet love doth now invite
Thy graces that refrain
To do me due delight,
To see, to hear, to touch, to kiss, to die
With thee in sweetest sympathy.

Come again,
That I may cease to mourn
Through thy unkind disdain;
For now left and forlorn,
I see, I sight, I weep, I faint, I die
In deadly pain and endless misery.

Gentle love,
Draw forth thy wounding dart;
Thou canst not pierce her heart,
For I that to approve,
By sighs and tears more hot than are thy shafts
Did tempt, while she for triumph laughs.


--Anonymous, XVIth Century.

John Dowland (1563-1626): Major Inspiration to the Lake

Monday, January 09, 2006

John Dowland: Some Lyrics I


The Lowest Trees Have Tops


The lowest trees have tops, the ant her gall,
The fly her spleen, the little spark his heat,
And slender hairs cast shadows though but small,
And bees have stings although they be not great.
Seas have their source, and so have shallow springs,
And love is love in beggars and in kings.

Where waters smoothest run, deep are the fords;
The dial stirs, yet none perceives it move;
The firmest faith is in the fewest words,
The turtles cannot sing, and yet they love;
True hearts have eyes and ears, no tongues to speak:
They hear and see and sigh, and then they break.



--- Sir Edward Dyer (1543-1607).

Sunday, January 08, 2006

Sisyphus' rock and roll

Atlas-Sisifus, 1998
Melancholy is the state of being usually related to those who exhibit a great imaginative power capable to create artistic, intelectual, physical and moral realms in which the basic condition of human existence could be overcome. However, if things were right for those feeling melancholy, it shouldn't even happen to appear. The problem is that the basic condition of human existence, ie., human mortality and limitedness, cannot be trully overcome without the subject's own self-destrution. I personally believe that people who feel melancholy usually are more open, in one moment or the other, to feel the the constraints of human life. They perceive disgrace in a deepest degree, and find the emptyness bigger inside, with greater spaces of darkness and a bigger and more complex topography of pain. So they try to populate their inner spaces, with great power and great resources. But their basic condition cannot be overcome. So they feel that even having great talents and resources at their disposal, they still keep their acute ocean of despair unrecognized and untraveled - the only way out of this is through this...

Thursday, January 05, 2006

To Rise and Fall


Herbert James Draper (1864-1920) - The Lament for Icarus (1898) - Tate Britain, London.

The Lake's Inspirations


Eleni Karaindrou, Adagio - Theme from Theo Angelopoulos' s film " Landscape in the Midst"